já passava das onze da manhã quando decidi desviar da estrada principal.
seguir uma placa que indica um monumento ou ruína é por vezes sinal de locais com muita paz e sossego, nomeadamente quando estamos a falar de sítios perdidos no mapa.
e lá fui, seguindo a estrada estreita, à qual o meu GPS nem se atreveu a dar qualquer classificação, do tipo EM ou mesmo CM. não, desistiu logo e disse lacóniamente “caminho desconhecido”.
Categoria: Contos
Lentamente levantei o tabuleiro e arrumei o livro, já não me apetecia ler.
A viagem ainda iria durar mais umas cinco horas e o melhor seria mesmo dormir.
Enquanto tentava ignorar o ruido ambiente dos motores a jacto e o burburinho das pessoas, fechei os olhos.
Terei feito a escolha certa?
Deixar para trás tudo o que construi durante metade da minha vida, tudo em troca de um futuro e carreira incertas.
acordei de repente, cheio de frio.
não me lembrava de nada, nem mesmo o meu nome.
estava deitado na terra húmida, algures num campo deserto.
era noite cerrada, o vento soprava forte, como se chamasse a chuva.
esta chegou, fraca no inicio, mas ficando cada vez mais forte.
de repente, o instinto pela sobrevivencia foi mais forte.
aos tropeções comecei a andar, depois a correr, sem rumo, sem direcção, apenas com o proposito de me abrigar.
o gato dormitava no parapeito da janela, indiferente ao passar do tempo, suavemente adormecido pelo calor do sol que, perguiçosamente, se deita ao longe.
o homem suspira ao acabar de ler mais um livro e, vagarosamente, desce a longa escada em espiral até à biblioteca. faz este percurso várias vezes ao dia, entre a troca constante de temas de leitura e a vigia lá no topo.
porém, nem sempre assim foi, os dias eram ocupados com decisões que influenciariam a vida de milhares de pessoas, e as noites… bom, essas tinham mais vida própria do que alguém poderia um dia imaginar.