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ainda mais mudanças

já estou a trabalhar aqui faz um pouco mais de 15 anos, tempo suficiente para pensar em mudanças.

durante grande parte desse tempo, uns 11 anos talvez, estive numa área interessante onde havia criatividade e espaço para a inovação. certo é que nos últimos meses desse periodo a coisa piorou consideravelmente, fruto da politização dos serviços e aumento brutal da burocracia (vulgo papelada irrelevante).

o foco da atenção de quem chefia deixou de ser o nosso “produto interno” e passou a ser “agradar aos doutores e engenheiros”. verdade seja que este desvio da atenção foi deslizando ao longo dos anos de forma mais ou menos subliminar, sem que as equipas o tivessem percebido.

estas mudanças nas decisões terão certamente a ver com um qualquer sentido de sobrevivência organizacional que eu pessoalmente não entendo de todo. ou estão com medo em perder o poleiro ou querem fazer figura. o que não percebem de todo é que a relevância do trabalho é que realmente interessa.

claro que esses “doutores e engenheiros” são facilmente subornados com portáteis e placas de banda larga, dando assim muito mais importância a pessoas que não a deveriam ter, o que no fim do dia é muito mau para a organização.

mas “moving on”, foi-me dada a possibilidade de mudar para uma outra equipa, com funções completamente diferentes das que eu tinha tido até à data e resolvi aceitar o desafio e a mudança radical, só que nesta nova equipa premeia-se a insignificância e a “compliance” com o que o fornecedor diz. não há espaço para inovação nem para a criatividade.

o que me levou a reflectir imenso no assunto e chegar à brilhante conclusão: quem não consegue gerir mudanças, morreu para a vida ou está efectivamente mal enterrado. isto porque saber contornar as adversidades e prosseguir com um plano completamente diferente não está ao alcance de cada um.

não falo de mim, pois foram as mudanças recentes que fizeram com que a minha mente ficasse aberta a novas ideias e formas de pensar.

e claro que não há nada mais deprimente do que ouvir constantemente a frase “isso sempre se fez assim” sem que exista qualquer tipo de pensamento crítico nem análise de porque é que “sempre se fez assim”. isso ou sequências de comandos que são executadas quem nem um drone, sem que se saiba exactamente o que é que cada um dos comandos faz.

eu não consigo trabalhar desta forma durante muito tempo.

há um ditado Português que diz laconicamente ” se não estás bem, muda-te”

e eu mudei novamente, para outra equipa com outras funções, supostamente livre de influências e erros do passado, mas infelizmente a herdar os tiques da casa. nomeadamente o “fazer vénias” ao fornecedor. isto ocorre em simultâneo com o trabalho final da minha licenciatura e por muito que eu quisesse, a minha cabeça não estava propriamente virada para “cenas”.

a administração resolve fazer mais umas mudanças, alterando radicalmente algumas equipas próximas do que eu tinha feito durante aquela fase inicial, mas mudando a chefia e eu decido propor-me a integrar essa equipa, refeita quase do zero e em que eu seria uma mais valia, dado ao meu imenso conhecimento da infraestrutura.

ser por vezes ingénuo tem algumas desvantagens, o pensar que alguma vez na vida o meu trabalho seria considerado como relevante.

dois anos e meses depois atinjo um ponto de ruptura.

não houve uma única sugestão, plano ou proposta de melhoria que tivesse sido aceite por ter sido eu a dizer (síndrome do consultor externo/fornecedor). só prevaleceu tudo aquilo que eu fiz sozinho, em silêncio e (quase) pela calada. depois de implementados, explicados e novamente explicados lá acabam por aceitar a nova solução.

claro que o resto fica em “águas de bacalhau”, as alterações de fundo, as que poderão ter algum impacto significativo e que efectivamente proporcionam melhorias globais à infraestrutura, essas ninguém tem os tomates para fazer. o mais certo é porque na verdade não compreendem sequer o que é que estamos a falar.

ou ainda por perceberem que essas alterações não lhes dão qualquer notoriedade perante os tais “doutores e engenheiros”. este é ainda um dos grandes problemas, o quererem que por tudo e por nada aparecerem como os “salvadores da pátria”.

isto que explica a quantidade perfeitamente obscena de ecrãs de 40″ com dashboards de tudo e mais alguma coisa, em que o único intuito é engrupir os visitantes com a “videowall” de cenas para onde ninguém olha. não é que alguns não sejam úteis, decerto que serão, só que a esmagadora maioria de eventos “a vermelho” são mesmo falsos positivos.

mas de volta à questão premente, ainda mais mudanças.

vou mudar novamente mas desta vez de equipa, área e departamento, todo um mundo novo (para mim) para explorar e enfrento esta mudança de cabeça erguida.

não sei o que me espera neste novo desafio, mas partir para ele a frio é aquilo que me vai dar gozo.

 

principalmente porque deixei de ter medo das mudanças e sendo honesto, só custa a primeira 🙂

 

nota: 99% do texto foi escrito a quente ainda em Junho mas decidi deixar passar uns tempos para o publicar, tendo reflectido um pouco e não alterando praticamente nada